A Wise Wizard Games, famosa por títulos como Star Realms e Hero Realms, está enfrentando uma grande controvérsia após revelar que utilizou inteligência artificial (IA) na criação de artes para seu próximo jogo de cartas colecionáveis, Draconis 8. O anúncio reacendeu discussões sobre o papel da tecnologia no processo criativo e levantou preocupações éticas que vêm sendo debatidas em toda a indústria de jogos de tabuleiro.
A tecnologia no centro do debate
A IA tem sido tema de intensos debates na indústria de jogos. De um lado, a tecnologia é vista como uma ferramenta poderosa para aumentar a eficiência e reduzir custos; do outro, é criticada por questões éticas, como a exploração de obras de artistas sem autorização.
Em jogos de tabuleiro, o impacto da IA vem crescendo, com exemplos notáveis como a campanha de financiamento coletivo de Terraforming Mars: o Jogo de Dados pela Stronghold Games, que arrecadou mais de 2 milhões de dólares, e Grimcoven, da Awaken Realms, que também empregou IA na criação artística. Apesar das críticas, essas campanhas continuam a atrair investidores e jogadores, levantando a questão: até onde é aceitável usar IA no design de jogos?
Como a IA foi usada em Draconis 8
Segundo a Wise Wizard Games, a IA foi empregada como uma ferramenta auxiliar, não como substituta. O artista principal do jogo, Antonis Papantoniou, trabalhou diretamente com a tecnologia para criar 321 artes únicas.
De acordo com o CEO Rob Dougherty, a tecnologia permitiu expandir o número de ilustrações de 17 para mais de 300, algo que seria inviável devido às restrições de tempo e orçamento. Dougherty ressaltou que a arte gerada passou por um processo de refinamento manual para garantir qualidade e consistência.
“Nosso objetivo era usar a IA como um apoio criativo, permitindo ao artista explorar ideias e conceitos mais rapidamente. Sem ela, o escopo do jogo seria muito limitado”, afirmou Dougherty.
No entanto, mesmo com esses argumentos, a decisão gerou reações mistas.
A reação da comunidade artística
Artistas e outros profissionais da indústria foram rápidos em expressar sua indignação. Muitos argumentam que a IA utilizada em projetos como Draconis 8 mina a autenticidade artística e desvaloriza o trabalho humano.
Kyle Ferrin, ilustrador de Root, fez duras críticas, comparando o uso de IA à produção de algo “sem alma”. Roland MacDonald, ilustrador de Destemidos: Normandia e Final Girl, chamou a decisão de “um golpe no mercado de trabalho artístico”, enquanto Joan Guardiet (The White Castle) destacou que, embora a tecnologia possa ser útil, ela ainda opera em uma zona cinzenta ética e legal.
O impacto comercial e cultural
Apesar das críticas, o uso da IA não parece estar afetando significativamente o sucesso financeiro de projetos que a utilizam. No entanto, a questão vai além dos lucros: a introdução da IA desafia os valores centrais da comunidade de jogos de tabuleiro, que valoriza o trabalho artesanal e a conexão humana.
Em resposta às críticas, eventos como a Spiel Essen 2024 anunciaram que não utilizarão mais artes geradas por IA em suas campanhas promocionais. Essa postura reflete o desejo de preservar a integridade artística no mercado.
Da mesma forma, algumas editoras como a Stonemaier Games (Wingspan, Scythe), deixaram claro que não pretendem usar IA em seus projetos, reforçando seu compromisso com artistas humanos.
O futuro do uso da IA em jogos de tabuleiro
A adoção crescente da IA aponta para um dilema no mercado de jogos: como equilibrar inovação tecnológica com ética e valorização artística? Enquanto algumas editoras veem a IA como uma ferramenta criativa, a resistência de artistas e parte da comunidade sugere que ainda há um longo caminho para que essa tecnologia seja plenamente aceita.
A Wise Wizard Games, assim como outras empresas, enfrenta agora o desafio de convencer jogadores e criadores de que a IA pode ser integrada de forma ética e responsável, sem comprometer os valores fundamentais que fazem dos jogos de tabuleiro uma forma de arte única.
Fonte: boardgamewire.com